
Possível é sim, porque você ainda está aqui. Depois de todo esse tempo, eu ainda me pego me entregando à você, ao seu domínio. Ainda permaneço no seu terreno e mesmo de costas pra mim, mesmo tendo me colocado atrás de um muro alto, eu permaneço sendo regada e crescendo. Por mais que não seja você o cultivador, o mundo está aí pra isso. A natureza, as chuvas, o sol e o muro que você colocou, me dá sombra nas horas que preciso e assim eu vou sobrevivendo e vivendo; te vendo; sofrendo. Tá vendo! Ainda que eu queira me enterrar pra abafar tudo isso, minhas raízes se fortalecem e sim, fico cada dia mais enterrada, mas no seu terreno que é grande, seu plantio é vasto e eu tô plantada lá no cantinho, afastada de todo o resto com o grande muro me encobrindo. Sabe o que é? Eu sempre tô lá. Eu nunca saio e você sabe disso. Sempre que quiser dar uma olhadinha pra trás, irá me encontrar lá e aqui, agora. A qualquer hora.
Não sei como as plantas se locomovem. Talvez seja por isso que eu permaneço. Na verdade, você não está aqui; sou eu que estou aí, lá.