domingo, 9 de agosto de 2015

Paira

É que meu corpo reagiu de forma inusitada. Não havia só borboletas no meu estômago. A voracidade das asas batendo era tanta que chuto algumas águias e urubus e papagaios  e araras, pelo menos. Elas voavam agitadas em folia querendo ultrapassar a lei de Newton que diz que dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço; elas desafiaram a física e todas as leis do meu corpo. Quando eu te vi sentado, é como se Beethoven tocasse e hipnotizadas todas elas. Já não voavam mais em quinas; voava em voltas redondas. Uma plena coreografia regida por qualquer coisa orgânica. Havia dança! Fui ficando molinha, molinha... Outra dimensão me visitou. Prisma!
É que meu corpo tem mania de astúcia contra as tuas ruas, a fluência que vaza feito os granulados das trincheiras. Pra onde eu vou se não pra dentro de ti, que se apresenta com olhos piscianos os quais eu tenho imenso apreço? Os quais eu me derreto quando sorri mesmo sem boca, mesmo quando não me sorri, mas sorri... Pro mundo, pro outro, me provando que o aéreo na terra existe e me carrega consigo no seu alçar, paira... E dúvidas deixam de pairar e voam, se espalham, expelem de mim, suspende na atmosfera-mundo tornando-se poeira e são arrastadas, dissipadas. O desconcerto bordado de incerteza que me apresenta é tão sutilmente belo, genuíno, livre. Só posso parar onde estiver e admirar; contemplo. Capaz até de me carregar pro céu, o senhor Céu que me mantém apaixonada dia após dia, todo dia de um modo inusitado. Pressuponho que cheguei à um ponto: você é céu pra mim! Quisera ser anjo, ave ou qualquer capaz de visitá-lo imageticamente mais perto. Penso que o que não sou terra, sou céu; se não piso, é céu também. É você e eu; eu em ti e tu em mim.